Coincidências?

Ao completar o primeiro ano de visitas regulares a Monserrate, apercebi-me que assisti a um ciclo completo. Os Metrosideros robusta estão de novo a florir, apenas ligeiramente adiantados. Ao vê-los achei estar a assistir ao fim de um ciclo que se fechou.
Fui procurar fotos de Metrosideros robusta e tive que reescrever este post. Gosto particularmente de fazer montagens fotográficas dos antes e depois, e já reparei que quando tiro uma fotografia a uma planta procuro aquele que é o ângulo que transmite melhor o que quero mostrar. Frequentemente é apenas um. Por isso já aconteceu ter disparado uma foto ao passar por um Dicksonia squarosa numa das minhas primeiras visitas ainda sem saber o que via. Quando fui propositadamente à sua procura meses mais tarde, tirei uma foto desse mesmo exemplar, pensando que era a primeira vez que o via. De facto era a primeira vez que o via sabendo o que estava a ver. Quando assim é, a minha memória não esquece o que vê. Depois de uma observação cuidada e de dar uma volta completa ao exemplar escolhi exactamente o mesmo ângulo da foto meses antes, como viria a descobrir mais tarde quando andei a escolher fotos desta espécie. Não fiquei espantado por ter repetido acidentamente uma foto de um ângulo semelhante. A foto da esquerda foi tirada a 3Mp e a da direita a 5Mp. Fotos tiradas à tarde, com o mesmo enquadramento de forma não intencional enquanto passeava algures no relvado principal, com a mesma luz, no mesmo dia do ano só que com 365 dias de intervalo entre si. As semelhanças são notáveis.

Entre uma e outra, vi algumas florações que não acontecem todos os anos como as dos Doryanthes palmeri. Outras como as das Furcraea parmentieri são literalmente terminais, tanto no sentido de ocorrerem no terminus (no ápice em vez de ser nas axilas) como no sentido de após esta floração o exemplar morre, produzindo sementes e possivelmente afilhando na base, gerando novos indivíduos ou clones, respectivamente. Assim há manutenção da espécie. Mas só ao chegarem a um ano meteorologicamente apto decidem, como em secreto acordo, iniciar o irreversível processo de floração.

Outras como o elusivo e surpreendente Asplenium hemionotis, espécie autóctone a que ouvi chamar asplenio-de-folha-de-hera tantas vezes, foi-me mostrado por um novo amigo. Num sítio em que passei muitas vezes ao lado e que nunca tinha ido, e logo uma colónia inteira desta espécie tão rara.

As coincidências muito raramente o são. A coincidência do meu aniversário com o primeiro ano de visitas regulares é consequência de escolher ir para lá nesse dia do ano. Talvez o facto, de neste dia ter encontrado sozinho uma espécie cujo nome nunca tinha lido nas antigas listas de espécies; que nunca tinha ouvido falar; que nunca tinha visto, não o seja também. Certamente não fui o primeiro a vê-la florir sobre aquele caminho centenário. Mas foi como um grande segredo que ainda ninguém me tinha contado. Será coincidência, no dia em que me ocorreu já ter visto tudo, ver algo completamente inesperado num sítio onde tinha passado inúmeras vezes? Um arbusto velho e nobre que ainda nem tinha merecido uma etiqueta entre as dezenas de milhares já colocadas. Uma Kalmia latifolia!

Agora sei que nunca irei ver todas as espécies que lá existem. Sei também que sempre que voltar haverá algo que já lá estava e nunca tinha visto. Gosto de estar por lá, em Monserrate, e pode ser apenas uma coincidência ter descoberto a Kalmia latifolia hoje mas pareceu-me que Monserrate gosta de me ter por lá, também.

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